15 de julho de 2008
Peru declara a ayahuasca como patrimônio cultural
Altino Machado - Blog da Amazônia (Terra Magazine)
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O governo do Peru declarou como patrimônio cultural da nação os conhecimentos tradicionais e usos da ayahuasca praticados por comunidades indígenas em sua floresta amazônica. A ayahuasca é mais conhecida no Brasil como Santo Daime. A decisão do governo peruano, assinada pelo diretor do Instituto Nacional de Cultura, Javier Ugaz Villacorta, foi publicada na edição de sábado de El Peruano, o diário oficial do país.
Na declaração de reconhecimento, o governo peruano afirma que a ayahuasca tem qualidades psicotrópicas, isto é, que atuam sobre o psiquismo, a atividade mental, o comportamento, a percepção, sendo conhecida no mundo todo como uma planta indígena que transmite sabedoria para os iniciados sobre os próprios fundamentos do mundo.
Também afirma que os efeitos produzidos pelo seu consumo é equivalente à entrada nos segredos do mundo espiritual. Segundo o Instituto Nacional de Cultura, o ritual da ayahuasca está se estabelecendo como o centro da medicina tradicional e é um dos pilares da identidade dos povos amazônicos, sendo o seu uso necessário e indispensável para todos os membros da sociedade amazônica peruana.
A ayahauasca é uma bebida obtida a partir do cozimento do cipó jagube (Banisteriopis caapi), conforme foto acima, com a folha chacrona (Psichotria viridis), na foto abaixo. Segundo o governo peruano, a ayahuasca conta com extraordinária história cultural em virtude de suas qualidades psicotrópicas.
Virtudes terapêuticas
O Instituto Nacional de Cultura assinala que o uso e resultados obtidos com ayahuasca são necessários para todos os membros das sociedades amazônicas em algum momento de suas vidas e indispensáveis para que assumam o papel de portadores privilegiados, seja através de comunicações com o mundo espiritual ou para os que se expressam plasticamente.
O governo peruano afirma que os efeitos que a ayahuasca produz têm sido amplamente estudados por causa de sua complexidade e são diferentes dos que usualmente produzem os alucinógenos.
- Parte dessa diferença consiste no ritual que acompanha seu consumo, que conduz a diversos efeitos, porém sempre dentro de uma margem culturalmente delimitada e com propósitos religiosos, terapêuticos e de afirmação cultural - afirma Javier Villacorta.
No entendimento do governo peruano, a prática de sessões rituais de ayahuasca constitui um dos pilares da identidade dos povos amazônicos e seu uso ancestral nos rituais tradicionais, garantindo continuidade cultural, está vinculado às virtudes terapêuticas.
- Busca-se proteção do uso tradicional e do caráter sagrado do ritual de ayahuasca, diferenciando-o de usos ocidentais descontextualizados, consumistas e com propósitos comerciais - assinala a declaração do Instituto Nacional de Cultura.
Reconhecimento no Brasil
O governo também analisa, por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um processo de reconhecimento do uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
No final de abril, no Centro de Iluminação Cirstã Luz Universal - Alto Santo, fundado pelo mestre Raimundo Irineu Serra, em Rio Branco (AC), O ministro Gilberto Gil, da Cultura, recebeu documento com pedido de representantes dos centros que integram os três troncos fundadores das doutrinas ayahuasqueiras.
A solitação mereceu o endosso do governador do Acre, Binho Marques (PT), do deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa, e da deputada federal Perpétua Almeida (PC do B), articuladora do projeto de reconhecimento do uso ritual da ayahuasca.
Segundo o governador, “é muito fácil construir prédios, mas é muito difícil construir uma fortaleza cultural como esta”.
- É a nossa reserva moral, a nossa fonte de sabedoria. Eu mesmo, em momentos de descrença, de não ter mais esperança no futuro, foi aqui que encontrei sabedoria e iluminação e muita crença no futuro. Perenizar essa sabedoria, essa cultura e essa iluminação é importante para o Acre. O Acre agradece. Mas eu tenho certeza que o Brasil vai agradecer, não só o Acre - afirmou Binho Marques.
No dia 21, o programa SBT Realidade apresentará ao país os três troncos fundadores das doutrinas ayahuasqueiras (Alto Santo, Barquinha e União do Vegetal), que solicitaram ao Iphan o reconhecimento do uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
Publicado por José Murilo
Categoria(s): Na Mídia
Tags: amazônia, ayahuasca, Culturas Populares, daime, Patrimônio, Patrimônio Imaterial, peru